segunda-feira, 23 de maio de 2011

5º Capítulo - A conversa 2ª Parte

-Oh, não jogo nada. – Disse envergonhado. Levantou-se da cadeira onde estava sentado – Eu tenho que limpar isto, mas continua a falar. Queres alguma coisa para beber? – Perguntou Pedro enquanto se aproximava das arrumações.
- Não obrigada. Mas estou com alguma fome, não tens nada para comer?
- Acho que não, mas eu vou ver ali atrás. – Disse Pedro enquanto desaparecia da mira de Mariana - olha tenho aqui duas sandes de fiambre, queijo e alface, queres? – Perguntou Pedro já dentro da cozinha.
            - Sim pode ser. Quanto é que é? - Questionava Mariana.
- Não é nada, eu pago. – Afirmava Pedro.
- Olha agora, não pagas nada. – Declarava Mariana.
 Foram detidos pelo toque do telemóvel dele.
- Que nervos, esta rapariga é paranóica! – Dizia Pedro enquanto saía da cozinha com as duas sandes numa mão e o telemóvel na outra.
-Não vais atender? – Perguntou Mariana.
- Não, estou cansado de a suportar. Ela não consegue perceber que eu não quero nada com ela. Qual é o teu sumo favorito?
- Manga e laranja.
Aproximou-se da mesa onde Mariana estava sentada. Deu-lhe a sandes que tinha feito carinhosamente para ela, entregou-lhe também um sumo de manga e laranja, enquanto o dele era de morango.
-Oh, obrigada! Não era preciso. Mas afinal quem é essa rapariga? – Questionava Mariana dando uma golada no seu sumo.
-A Cátia, a enfermeira que te ajudou. Ela quer-me arruinar a vida, aproveita-se do facto de eu trabalhar no café do pai dela para me chantagear a toda a hora. – Esclarecia Pedro.
- Mas ela chantageia-te porquê? – Pergunta Mariana com cara de espanto enquanto pegava na sua sandes para começar a comer.

- Sim, diz que se eu não andar com ela diz ao Sr. Filipe para me despedir e coisas dessas. Mas eu não vou na conversa dela. Ele tem sido um pai e uma mãe para mim. Desde que a minha mãe morreu, ele ajudou-me muito. Tirou-me da miséria e da droga. Já fez muita coisa por mim e eu lhe vou estar eternamente grato. – Dizia Pedro com alguma angústia.
- A tua mãe morreu? Tu andaste na droga? – Perguntou Mariana com alguma surpresa. Queres contar-me essas histórias? Se te sentires há vontade de contar, claro. – Pronunciou Mariana enquanto olhava para Pedro.
- Bem…a minha mãe morreu quando eu tinha 14 anos. Morreu de cancro linfático. Foi muito rápido pois, quando foi descoberto, já era tarde de mais. A minha mãe foi muito abaixo quando soube da notícia, mas nunca desistiu porque tinha três filhos para criar. Seguiu um tratamento rigoroso, durante um longo ano lutamos pelo fim daquele pesadelo, quando finalmente estava a acabar e ela ia ser operada, houve umas complicações na operação e acabou por morrer. – Enquanto exprimia isto, seus olhos tinham-se tornado uma poça de água, as lágrimas começavam agora a escorrer pela sua face abaixo.
- Tem calma. – Proferiu bem baixinho Mariana junto ao seu ouvido, tocando no seu cabelo carinhosamente e abraçando-o. – E o teu pai?

- O meu pai? O meu pai fugiu de casa quando a minha irmã mais nova nasceu, correu para os braços de outra mulher deixando a minha mãe com 3 crianças nos braços por criar. Nunca mais o vi na minha vida, e na verdade não o quero ver mais. A minha mãe ainda é importante para mim. Ela era uma mulher muito corajosa. – Expressava tais palavras ainda em lágrimas.
- Acredito que sim, criar 3 filhos sozinha não deve ter sido nada fácil. Mas podes contar-me a história da droga? – Questionava Mariana.
- Bem, é um bocado difícil para mim contar isso. Mas tu pareces ser de confiança. A minha irmã mais velha começou a trabalhar ainda antes da minha mãe morrer. Como já era maior de idade quando ela morreu ficou com a custódia da minha irmã e a minha, nem acabou o curso para nos sustentar. Ela começou a trabalhar num restaurante, mas como não ganhava muito, começou a trabalhar em dois locais, num restaurante e num hipermercado. Trabalhava tanto e não ganhava quase nada. Eu não podia ver as minhas irmãs a sofrer daquela maneira. Tão pouco dinheiro em casa e tanto sofrimento com a perda de minha mãe. Conheci uns rapazes e entrei no negócio da droga. Eu primeiramente, só vendia. Ganhava bem, instaurei o meu próprio negócio, quem queria comprar já sabia que eu tinha. O negócio era bom, ganhava uns bons trocos e dava para ajudar lá em casa. – Informava Pedro.
- Mas tu só vendias? Ainda bem, do mal o menos. Mas mesmo assim tu eras tão novo para andar nesses negócios.
- Sim, é verdade era muito novo para andar naqueles negócios, tinha 14 anos. A vida não era fácil, não podia trabalhar com aquela idade e tinha que ajudar de alguma maneira lá em casa. Mas espera, ainda não acabei. Eu primeiro vendia, mas acabei por me agarrar às drogas leves. A vida não estava fácil eu sofri muito com a perda da minha mãe, e aos 16 meti-me na droga. As companhias não eram nada boas e fui influenciado, acabei por entrar no mundo da droga. – Dizia Pedro agora com alguma vergonha ao expor tal situação.
- A sério? – Perguntava Mariana admirada.
- Sim, passei por volta de dois anos nesse vício. Mas fartei-me, queria sair daquilo, mas não sabia como. Já tinha perdido tudo de bom que tinha na minha vida. Aquela condição obrigou-me a sair de casa e acabei por ficar sem ver as minhas irmãs durante muito tempo só por causa do vício. Um dia, vim a este café. Estava farto da vida que levava, naquele dia o negócio quase dava para o torto. – relembrava Pedro. Mariana ouvia-o atentamente – Quando me sentei ali no balcão, nem sequer sabia que era do Sr. Filipe o dono do café, eu conhecia-o porque sempre morei neste bairro. Só que já não vinha cá há muito tempo, desde que tinha saído de casa. – Suspirou e lacrimejou novamente.
- Calma. – Pediu carinhosamente Mariana.
- Quando aqui cheguei, o sr. Filipe reconheceu-me logo. Falamos durante horas, contei-lhe tudo o que se tinha passado e o que se passava. Ele ofereceu-me ajuda e confessou-me que sempre me considerou um filho. Acabou mesmo por assumir que o amor da sua vida era a minha mãe e que também estava a sofrer muito, com o que se tinha passado com ela. – Lacrimejou novamente. - Ele ajudou-me muito desde aí! Pagou-me um tratamento de reabilitação e ofereceu-me este emprego, com a instância de que tinha mesmo de deixar a droga, se não nada feito. – Assumiu Pedro.
- E tu? Largas-te?

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